A troca no comando da superintendência regional da Polícia Federal no Distrito Federal, oficializada na última sexta-feira, 8, pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, pegou delegados de surpresa. Não houve sinalização de que uma substituição na chefia da unidade vinha sendo estudada pelo diretor-geral da corporação, Paulo Maiurino. Ele próprio havia nomeado, cinco meses atrás, o delegado Hugo de Barros Correia para o cargo. O posto passa agora para as mãos do delegado Victor César Carvalho dos Santos, que vem do Rio de Janeiro, reduto político do clã Bolsonaro.
Ao Estadão, o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Félix de Paiva, diz que a mudança causou ‘nervosismo’ na corporação. “Não há uma explicação clara para a troca e isso gera um clima interno ruim, com especulações de todas as formas. Os colegas se sentem inseguros”, afirma.
A falta de uma justificativa objetiva para a substituição, quando já existe um inquérito em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir politicamente na corporação, amplia o desgaste da Polícia Federal e acirra a insatisfação com o diretor-geral. O clima já vinha se deteriorando desde a tramitação da reforma administrativa.
“Nós queremos que o nosso diretor-geral retire a Polícia Federal dessa narrativa política, que ele evite qualquer tipo de ação que coloque a credibilidade da corporação em risco”, pontua Paiva. “Se não cessar esse ciclo de ações que dão combustível para especulações e dúvidas internas e externas a respeito da PF, certamente enfrentará uma reação muito forte. Ele precisa cuidar do clima interno e passar tranquilidade aos delegados”, acrescenta.
A superintendência do DF é responsável por duas das principais investigações que hoje preocupam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido): o inquérito das fake news, que mira apoiadores e aliados bolsonaristas sem prerrogativa de foro, e o que apura se Jair Renan, filho ’04’ do presidente, cometeu tráfico de influência. A unidade também toca o inquérito administrativo sobre os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral.
Na avaliação do presidente da ADPF, a sensibilidade das investigações em curso na unidade reforça a necessidade de uma explicação clara para a troca. Ele reconhece ainda que a PF vive um ‘período muito difícil politicamente’. “Os colegas querem sentir o firme compromisso do diretor-geral em proteger a Polícia Federal e os delegados que estão fazendo investigação”, pontua.
Paiva é categórico ao dizer que os delegados da Polícia Federal não vão assistir inertes eventuais trocas políticas na corporação. “Nós não vamos permitir que sejam feitas movimentações políticas na Polícia Federal sem que tenhamos uma reação. É como se tivéssemos marcando um X no chão: daqui ninguém passa”, crava. (Rayssa Motta/Agência Estado)